segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Noticia

Texto nº 1
NOTÍCIA DE JORNAL

Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, trinta anos, presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante setenta e duas horas, para finalmente morrer de fome.
Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos de comerciantes, uma ambulância do pronto socorro e uma rádio patrulha foi ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.
Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da delegacia de mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Médico Legal sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.
Um homem morreu de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um
marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa – não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, de desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.
Não é da alçada do comissário nem do hospital nem da rádio patrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombando em plena rua, no centro mais movimentado do Rio de Janeiro, um homem morreu de fome.
Morreu de fome.
Fernando Sabino


Texto nº2
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão
Não era um gato
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel bandeira.


1ª- Qual a temática dos dois textos? ______________________________________________

2ª - No primeiro parágrafo o autor Fernando Sabino escreve sobre o que leu no jornal. Na expressão “em pleno centro da cidade” o autor quer expressar o sentimento de:

a) êxtase
b) indiferença
c) indignação
d) alegria

3² - O autor considera “em pleno centro da cidade” um lugar apropriado para os fatos do cotidiano acontecerem? Comente.
R: _________________________________________________________

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4ª – Por que o autor repete a expressão “morreu de fome” e suas variantes tantas vezes?
R: ________________________________________________________
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5ª – Qual o sentimento comum aos dois textos?
R: ________________________________________________________

6ª – Marque a opção correta. No texto nº 1 o espaço, o local em que o fato acontece é:

a) no shopping b) na rua c) na residência d) na escola

7ª – Marque a opção falsa. No último verso do poema – texto nº2 - “meu Deus” vem entre virgulas porquê :
a) ( ) porque funciona como aposto;
b) ( ) expressa perplexidade do poeta;
c) ( ) o poeta está com medo do bicho;
d) ( ) o poeta precisa enfatizar sua indignação e dar entonação ao verso.



8º - A leitura enriquece nosso vocabulário, portanto retire dos dois textos 4 palavras, que você não sabe o significado, e procure–as no dicionário.

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Beijos,




MENOR ABANDONADO
De onde vens, criança?
Que mensagem trazes do futuro?
Por que tão cedo este batismo impuro
Que mudou teu nome?
(...)
Criança periférica, rejeitada...
Teu mundo é um submundo
Mão nenhuma te valeu na derrapada
Ao acaso das ruas – nosso encontro
És tão pequeno...
Eu tenho medo.
(...)
Revolta-me tua infância desvalida.
(...)
Quisera escrever versos de fogo
E sou mesquinha.
(...) Pudesse eu te ajudar criança-estigma.
Defender tua casa, cortar tua raiz
Chegada...
Cora Coralina






POEMA BRASILEIRO
No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade
No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes de completar


Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
Manoel Bandeira
Prova Brasil: http://provabrasil2009.inep.gov.br/images/stories/pdf/4serie_5ano.pdf